quarta-feira, 3 de junho de 2009

... dessas e de muitas outras.

Ela folheava a revista sem vontade alguma, não tinha a menor intenção de parar em qualquer página que fosse, só tinha por hábito fazer aquilo com o que estivesse ao seu alcance. Era isso que estava alí, no balcão largo da livraria que servia o melhor café daquele shopping.

Ele entrou rápido - na mesma hora ela levava a xícara da mesa à boca - e foi direto ao setor que lhe interessava, com passos de quem sabe o que foi fazer alí, direto ao ponto. Nem sequer pensaria em entrar naquela livraria se não fosse aquele livro que lhe indicaram. Não entraria em lugar algum se não fosse com um objetivo certo. Nunca foi desses que entram pra olhar, nunca foi desses que passeiam em shopping.

Ela, com a xícara ainda entre a mesa e a boca, viu ele saindo da livraria e pode perceber que ele a olhara com o canto dos olhos com uma indiferença digna de quem realmente não precisa de ninguém. Ela sentiu uma sensação estranha quando percebeu que, não só a xícara permaneceu alí parada, quase flutuando junto a seus pensamento, como a página da revista era exatamente a mesma quando ele entrou. Confusa, ela tentava entender se aquele rapaz teria feito tudo muito rápido ou se foi o mundo dela que havia parado naquele instante. De coração magro, sabia que aquilo não lhe ocorria há muito tempo. Em suas experiências amorosas, aprendeu bem que aquela indiferença toda era receita certa pra uma paixão fulminante.

Ele, a caminho de casa, passava as páginas daquele livro, à toa, só pra não correr o risco de ver um conhecido qualquer e ter de enfrentar o porre das relações sociais. E por um instante dedicou alguns segundos àquela criatura sentada no balcão da livraria, com seu julgamento barato, tentava entender o que teria de bom a oferecer, gente que lê revistas de beleza...

A vida tem dessas.