quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O tempo não perdoa, Marlene.

Acabara de completar 18 anos, chupava o canudinho do milk-shake pensando que faria tudo por aquele canalha que só a faz sofrer, e em quão estúpidos eram seus pais. Eram apenas cinco metros até chegar ao outro lado da rua. Distraída nos metros e atenta ao canudinho, atravessava como se não despertasse o desejo de transformar a calçada em espelho ou qualquer outra coisa que refletisse os únicos segredos que interessavam aos homens. O calor justificava a saia curta. Só faltavam dois metros e três chupadas quando ouviu a buzina descontrolada de dona Marlene, o botox e as plásticas foram ao limite durante os gritos à garota dos pais estúpidos e amor bandido.

_ Sai da frente, pirralha burra!!!

Muita raiva, muita. Pura raiva; era o que traduzia o que Dona Marlene sentia diante da ninfeta e daquele ato imperdoável: atravessar a rua jovialmente desatenta. Imperdoável. Roberto, marido e carona de dona Marlene em seu carro, apenas sorriu. Como se não tivesse ligação nenhuma com aquilo tudo.