sábado, 4 de abril de 2009

Do outro lado do mundo.

Não lembro de quando é o texto, mas peguei do meu blog que eu escrevia no Japão. E faz parte de mim. Uma época em que não havia amigos pra conversar. O término de namoro mais doloroso da vida, a vontade de ir embora daquele país, e uma necessidade imensa de externar aquilo que eu sentia. Merece estar aqui no blog novo.

"Antes de qualquer coisa, gostaria de dizer que sinto muito. Sinto em ter de dizer que nada tenho a dizer, que tudo o que sempre acreditei hoje nada significa para mim. Que a vida cresceu demais, o mundo se transformou, e eu continuo aquela criança de sempre, que ainda chora ao sentir que as coisas não saíram como ela queria, que sente medo e tristeza diante de qualquer frustração. Sinto que tudo pode ter mudado, que as pessoas evoluíram, cresceram, e que nada mais pode ser alterado na medida em que vivo o eterno presente. Sinto que tantas confissões me fazem sentir um pouco pequeno. Um pouco menor do que deveria, talvez. Sinto que tudo poderia ter saído melhor, que o mundo poderia ter sido um pouco mais ameno comigo. Sinto uma incompreensão gigantesca, que brota aqui dentro e se espelha no mundo, em tudo o que me cerca. Ouço os passos daquela criança que um dia me deu alegria, ser uma criança foi uma coisa interessante para mim, foi algo que realmente me fez sentir que a vida era boa. Mas a vida é boa. A vida é ótima. Por que a gente sofre tanto? Queria mais respostas às minhas muitas dúvidas. Queria muito, de coração. Minha raiva só mostra que tudo o que sinto é verdadeiro, e encobre a tristeza que seria a realidade de minha vida. Foi o que me inspirou a escrever isso aqui. A vida. Tenho alguns motivos por aí, tenho algumas coisas para me apegar. Qual será o grande problema que me deixa assim, tão triste? Não sei. Queria realmente saber. Sou uma pessoa cheia de vazios, será que todo mundo é assim? Até que ponto a mentira pode me levar? Isto é, será que vale a pena começar algo assim? Vale a pena tentar? Claro que vale, esta tem de ser a resposta; ou isso ou você desiste. Eu não quero desistir, sinceramente não quero. Não quero nem me perguntar se isso tudo, essa torrente de texto que sai de dentro de mim tem valor ou não, se vale ou não, se está correta ou não, se está bem escrita ou não. Sem perguntas. Fluir, quero que a coisa acabe fluindo. Não acho certo que isso aconteça assim, desta maneira.Acho que tudo pode correr de uma maneira melhor, mais humana. Eu tenho de ser mais humano com o mundo, e principalmente comigo mesmo. Tenho de ser mais condescendente, tenho de ter mais amor. Quero ser mais do que sempre fui, sempre quero. Tenho essa mania tão humana de rejeitar o que queria mas não consigo ter. Isso devia ser chamado de covardia. Ah, é assim que classificam esse tipo de atitude? Ah, que coisa. Viu como é difícil dar uma contribuíção genuína ao mundo? Quase tudo já foi dito, classificado, descoberto ou inventado. Quer dizer, eu poderia ser biólogo e descobrir uma nova variedade de besouro comedor de larvas que só existe nas cavernas úmidas da Amazônia setentrional. Mas a quem interessa, além de um grupo reduzidíssimo de biólogos, isso tudo?As pessoas não querem saber se existe ou não existe um novo tipo de besouro comedor de larvas nas cavernas úmidas da Amazônia setentrional. As pessoas sequer sabem se existem ou não cavernas úmidas na Amazônia setentrional. Para a maioria das pessoas, eu incluído nesse grupo, a Amazônia é só uma fotografia de uma vasta floresta num pôster ou livro de escola. Faz sentido, não faz? As pessoas querem saber de vaidade, do último desfile de Gisele Bündchen, da capa da Playboy. Querem comprar o novo disco do Cpm-22, querem viajar para Paris e viver dias a flanar, querem comprar a miniatura da Torre Eifell, que não sei se escreve com um ou dois éles (acho que é com dois). As pessoas querem dizer "o que as pessoas querem". Querem saber mais do que sabem, querem poder. Eu sou parte das pessoas, eu também quero um naco disso tudo. Quero ser feliz, embora não admita assim, claramente. Há problema em qurer ser feliz? Eu tenho uma vida regrada, pago mihas contas (às vezes esqueço uma ou outra), e quero continuar assim. Dizer "sim senhor, seu guarda". Quero dar bom dia às pessoas com um sorriso no rosto, brincar com o resultado do jogo de ontem à noite. Quero ler meu jornal e acreditar que o país está melhorando, que meu time pode ser campeão e que as pessoas estão mais felizes, quero ler as notícias mais amenas, as boas novas (que não sei se escreve assim ou com hífen, estou compreguiça de consultar o dicionário), quero ser mais feliz. Aceitar qualquer coisa, parar de reclamar, não sentir necessidade de saber tudo o que os jornais noticiaram. Saber que a minha vida pode ser ordinária, igualzinha à vida de milhares de outros cretinos, e mesmo assim me sentir feliz. Quero muito, na verdade. Não sei se vai dar tempo pra tudo. O primeiro passo, de repente me ocorreu, seria sair da frente deste computador, abraçar as pessoas que amo, mas não posso. Acho que é isso. Cumprir as coisas direitinho. A vida pode ser uma coisa muito boa, mesmo sozinho. Às vezes o medo nos empurra para o que há de melhor."